quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

BUNDAFLOR, BUNDAMOR

Piriforme, pectíneo, quadrado lombar. Ísquio, ilíaco, púbis. Glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo. Quadril. Esse conjunto composto por ossos e por músculos anatomicamente funcionais constitui uma região amplamente popular em nosso país: a bunda.
O amplo interesse por esta parte do corpo está presente, desse modo, em diversas áreas, sendo foco de inspiração e temática. A chamada “preferência nacional” dos brasileiros, a bunda, é o cerne para criação desse novo trabalho coreográfico da companhia. Em cena o elenco aborda com humor o imaginário brasileiro, brindando nos movimentos de seus corpos para além da banalização dos elementos que compõem o real e o simbólico desse universo. A obra tenta desmistificar as várias conotações que são dadas a ela ao experimentar esta parte do corpo com movimentos que não apenas remetam à sua representação erótica ou sexual, e sim, dispor a colocar em foco esta porção privilegiada do corpo sem falsos moralismos. Como dizia Drummond, “É o milagre de serem duas em uma, plenamente, e bunda é a bunda, redunda”. E bem como viu Jean-Luc Henning em sua Breve história das nádegas, “a bunda é barroca, sim: a bunda é barroca. Curva e plenitude” dispara.

‘ Y Kûá - O silenciar de um rio

A obra ‘Y KÛÁ - O silenciar de um rio, tem como ponto de partida para a pesquisa coreográfica o elemento água, melhor dizendo; a falta da água. A água em processo de escassez. Nosso planeta esta ruindo, nossa flora queimando, nossa fauna sumindo, nossa água secando. Para onde iremos e o que seremos depois disso?

Peixes, anfíbios, lagartos, pássaros, macacos, homens, mutantes?
alguns seres percebem o mundo, outros apenas o devoram.

A relação do homem com o ambiente que o cerca exterioriza a relação que ele tem consigo? O que ocorre com a água no planeta reproduz em escala máxima o que acontece no seu íntimo? O que o homem faz com suas relações é o mesmo que faz com o meio ambiente?

IN/Compatível?

IN/Compatível? é mais do que uma simples pergunta. Com um cenário composto por uma mesa de escritório e duas cadeiras que assumem várias funcionalidades, ora transformando-se em cama, ora constituindo um ambiente de negociação e embates, ao redor das mesmas , a relação entre os três personagens se estabelece.
Doses equilibradas de crítica, de bom humor e de provocação envolvem o público, não somente nos sentimentos e situações cotidianas expostos nas possibilidades já anunciadas no título da obra, mas, essencialmente, no desenho destas relações, nas escolhas artísticas e na forma de apresentá-las, criando imagens que impedem a redução do tema a meros clichês.
A abundância de imagens e sensações sugeridas pelo cotidiano das relações humanas, ponto de partida para a pesquisa coreográfica, retrata a robotização de uma união através de uma linguagem contemporânea, com três personagens que se entrelaçam em seus sentimentos. Em cena, os seres negociadores do amor trajam um figurino pop que sugere um mundo mecanicista com relações vazias e distantes, onde os corpos ficam evidenciados no intuito de questionar o culto ao corpo existente em nossa sociedade, o mecanicismo de nossas relações e a robotização de nossos comportamentos cotidianos.
VENCEDOR DE 3 PRÊMIOS AÇORIANOS/2005: » Melhor Coreografia » Melhor Bailarino: Eduardo Severino » Melhor Trilha Sonora Pesquisada
Esta foi a primeira versão de IN/Compatível? , no elenco, Luciano Tavares, Carol Peter e Eduardo severino.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A mão mansa do afeto

Afeto, sentimento de inclinação para alguém, simpatia, amizade, afeição, amor, paixão, submetido, entregue, pendente.

Como falar sobre afeto? Como expressar a dor da perda, a euforia do reencontro, o pressentimento da distância, afastamento, reconciliação, afagos, amores e desamores do ser humano? Algumas sensações só podem ser expressas em palavras; outras, só através da dança.

MELHOR COREOGRAIA PRÊMIO AÇORIANOS DE DANÇA 2003

"Minha dança é o instrumento de dialogo com o mundo, minha obra é um registro claro da busca por uma linguagem própria que representa o pensamento da dança a que me proponho."

Cinco pessoas na tentativa de um novo viver...
Uma investigação coreográfica que passeia mão a mão pela carência do afeto, do outro, da mão, do calor, do ombro, da carência do apoio. Pessoas que se unem na tentativa de um novo viver.

A mão mansa do afeto.
Eduardo Severino

Lixo, Lixo Severino

O trabalho propõe um olhar diferenciado sobre a condição do ser humano que vive do lixo. O ambiente é um grande lixão onde dois personagens se encontram e tentam estabelecer diálogos de ajuda mútua. E de uma simples corrida, a procura de objetos, é o suficiente para se tornar numa coreografia em que vai perpassando por diferentes situações ao remeter o carnaval, a capoeira e o futebol. Fruto da alegria de um povo. A obra mostra através de uma linguagem gestual contemporânea expressões desse homem que vive à margem dessas condições subumanas. E também, seus posicionamentos expressos em atitudes, comportamentos e pensamentos.
A dança estabelece com o tema uma relação intensa no exato momento em que a ousadia artística do movimento aproxima-se do seu limite, precisando ser retomada, reciclada como matéria - prima. Um reequilíbrio que é ponto de partida a novas ousadias, intencionalmente cada vez mais auto - sustentáveis.

Alma Tonta


Uma investigação coreográfica sobre a poesia Canção Ballet do poeta brasileiro Mario Quintana. Alma Tonta usa como narrativa a poesia que fala dos sonhos, desejos, dúvidas e desencantos de um homem e uma mulher.As personagens vivem em universos paralelos, vulneráveis pelos desejos de um outro mundo. Música eletrônica, poema e silêncio fazem parte da ação, pontuada pela voz de Adriana Deffenti, ora lírica, ora sussurrada, tremida e gemida.



"Eduardo Severino, criador/intérprete - Busca pesquisar uma linguagem de movimentos própria, transmitindo conceitos claros através de um jogo de movimentos delicados, sensíveis e pequenos, contrastando com amplos desenhos no espaço." Eva Schul

CANÇÃO BALLET

Ele sozinho passeia
Em seu palácio invisível.
Linda moça risca um riso
Por trás do muro de vidro.

Risca e foge, num adejo
Ele pára, de alma tonta.
Um beijo brota na ponta
Do galho do seu desejo.

E pouco a pouco se achegam
Põem a palma contra a palma
Mas o frio, o frio do vidro
Lhe penetra a própria alma!

“Ai do meu Reino Encantado,
Se tudo aqui é impossível...
Pra que palácio invisível
Se o mundo está do outro lado?”

E inda busca, de alma louca,
Aquele lábio vermelho.
Ai, o frio da própria boca!
O amor é um beijo no espelho...

Beija e cai, como um engonço,
Todo desarticulado...
Linda moça como um sonho,
Se dissipa do outro lado...

(Mário Quintana)